I.
No dia seguinte, ainda
não haviam sido impressas novas notas, mas os escudos começaram a circular,
vindos não se sabe de onde, em notas e em moedas que passaram a ser aceites em
todos os estabelecimentos.
As pessoas voltaram a
raciocinar em escudos, dando conta de que os preços tinham aumentado para além
do razoável. Um café a 120 escudos, quando antes custava 50, um litro de
gasolina a 320 quando antes custava 100. Nos pequenos restaurantes comia-se
antes do euro por 600 escudos e agora gastam-se, no mínimo 2.400.
Essa era uma sensação
estranha, recuperando memórias e esperanças de que os preços baixassem,
sobretudo para aqueles que não tinham horizonte.
Esgotaram-se em todo o
país as canas de pesca e milhares de desempregados correram para as praias e as
margens dos rios, como que a responder ao discurso do general Francisco
Sanches. E as peixeiras voltaram a percorrer as ruas das cidades com baldes
cheios de peixe, para venda nas ruas e nas casas.
Homens mulheres e
crianças passaram a ver-se em todo o país, a escarafunchar a terra, sem alfaias
nem jeito, como se a quisessem ressuscitar, ao menos num gesto. Mas não havia
sementes, nem alfaias. Havia apenas vontade. Mesmo que aquela terra nada
produzisse, o simples facto de ser removida dava a quem a via uma ideia de
fartura e de esperança.
As pessoas deixaram de
protestar, para passarem a conversar sobre sonhos, sobre o que fazer para
construir, tudo como se tivessem sido tocadas num passe de mágica.
Era o país moribundo a
ressuscitar, com toda a sua energia e com todas as suas forças.
Naquela noite, depois do
discurso do presidente, Angelina foi convidada a expor a sua proposta de
emergência à junta de salvação nacional, o que a obrigou a repetir o que já
explicara aos da comissão, em jeito de programa de governo.
Portugal não precisa de
um governo, como está demonstrado pela prática. Os governantes são apenas a
imagem de programas que não são seus e de ideias que não são suas. Compram as
ideias ou alugam-nas e enriquecem com comissões geradas pelos negócios
públicos.
Por isso – prosseguiu ela
– o ideal é que os projetos sejam desenvolvidos pelos próprios que os geram ou
os administram, porque isso permite maior celeridade e poupanças colossais. O
importante é que haja dinheiro para os desenvolver e que haja pessoas para os
realizar.
O grande sucesso da China
comunista está em que desenvolve os projetos nas suas diversas células, sem que
haja intervenção dos governantes. Fazem-nos sob o controlo do partido
comunista, de forma não democrática. Mas é possível desenvolvê-los de forma
democrática, com a participação dos cidadãos, com a verificação de todo o povo.
Por isso, meus senhores,
a minha primeira proposta é no sentido de que acabe com o governo, porque não
precisamos dele para nada. O que precisamos é de dinheiro. E como se resolve
esse problema.
A história demonstrou-nos
que quem sabe de dinheiro são os bancos e que nos momentos difíceis foram eles
que salvaram o país.
Hoje, verdadeiramente,
quem manda são os bancos. Mas com o sistema que temos, eles estão paralisados
pelos interesses estrangeiros, porque estão cativos dos estrangeiros.
O que eu sugiro é que a
junta fale com os bancos e faça com eles um pacto.
O primeiro objeto desse
pacto deve ser o pagamento da dívida pública que, desgraçadamente, se contraiu
em euros em dólares e foi, na sua maior parte, gerada por operações internas.
Chamamos os bancos
nacionais e vamos dizer-lhes: meus senhores vamos saldar toda a dívida pública.
E como é que fazemos isso? Só há uma maneira de o fazer, que foi adotada
durante séculos: emitindo moeda. A casa da moeda emitirá a moeda necessária
para pagar toda a divida pública e procederá ao pagamento daquela de que são
titulares os bancos nacionais.
No que se refere aos
credores estrangeiros vamos fazer o mesmo: ou recebem os pagamentos em escudos,
ao câmbio de 200,482 por euro ou correm o risco de não receber nada.
O estado fica limpo de
dívidas e os bancos ficam cheios de dinheiro, o que lhes permite voltar a
desenvolver a sua atividade sem restrições mas, mais do que isso, os obriga a
uma política de crédito responsável, emprestando dinheiro apenas a quem
apresentar projetos viáveis, cujo sucesso esteja garantido.
Talvez no início ninguém
queira comprar escudos. Mas se com o volume de dinheiro com que ficam os bancos
pusermos a economia a funcionar e aumentarmos as nossas exportações, toda a
gente vai querer escudos para nos pagar o que nos compram.
Isto, afinal, era um ovo
de Colombo, nada de especialmente novo, como demonstrou Angelina, repetindo a
breve história da moeda sobre a qual já atrás tinha meditado.
A única objeção foi
levantada pelo major Jorge de Oliveira, que opinou que a União não iria deixar,
porque isto poderia provocar um efeito de contágio em todo o território dos 27
estados.
Os senhores é que têm o
poder, não sou eu. E a União não pode fazer nada, rigorosamente nada, se amanhã
lançarmos a nossa própria moeda, a par do euro que agora circula e que
continuará a circular.
Não há euros, não há
dólares para fazer funcionar a economia. Mas haverá escudos e temos aquele
velho ditado que diz que quem não tem cão caça com gato.
Com este esquema não se resolviam
os problemas todos, mas poderiam resolver-se os mais graves. Era previsível
que, ao menos num primeiro momento, não nos aceitassem os escudos como moeda de
troca internacional, para a importação de matérias primas, de produtos
estrangeiros, de petróleo e de alimentos.
Por isso era
especialmente importante condicionar as importações, limitando-as na justa
medida do necessário para o funcionamento da economia, e aproveitar,
meticulosamente todos os recursos internos, especialmente os da agricultura e
da energia.
O maior drama depois da
alimentação é o da energia . – adiantou Angelina. Mas podemos recuperar o gasogénio,
cuja produção parou depois da segunda guerra mundial.
Não se sabe por que
misteriosas o aparelho de síntese de gases, que permitia fazer girar os
automóveis com carvão e restos de madeira não teve qualquer desenvolvimento
depois do fim da guerra. Mas hoje mesmo correu a notícia de que uma empresa do
norte está em condições de os produzir e lançar no mercado, se tiver o apoio da
junta, que nunca houve no tempo do governo deposto, por causa do lobby da
petrolíferas.
Quando Angelina
interrompeu todos os militares a olharam, de olhar fixo, sem uma palavra, até
que Francisco Sanches interrompeu o silêncio.
Chamem os presidentes dos
bancos para uma reunião, amanhã, às 11 horas. Vamos dormir sobre estas
reflexões, que o dia foi longo, camaradas.
II.
Angelina pediu a um
militar que a levasse a casa de Francisco Beirão, já passava da uma da manhã.
Meteu a chave na porta e
deu com ele adormecido no sofá, com a televisão ligada à CNN. Antes de o
acordar ainda ouviu o locutor anunciar que Portugal se tinha transformado num
caos, o que se compreendia devido ao contágio da situação no norte de África e
ao facto de não ser verdadeiramente um país da União Europeia.
Já Voltaire dizia que
para além dos Pirenéus era África e foi sempre com a África que os portugueses
se relacionaram, até serem expulsos por russos e cubanos de Angola e
Moçambique. Portugal, sendo embora um país católico, mantém metade do território
muito ligada ao mundo árabe, afirmando uma cultura que é mais árabe do que
europeia. Grandes navegadores, os
portugueses só conseguiram chegar à Índia graça ao apoio dos muçulmanos,
que diziam combater.
São um povo de
cumplicidades; e por isso mesmo não poderão ficar surpreendidos se num destes
dias for revelado que o Alentejo é um santuário de terroristas, que apoiaram os
ditadores do Magrebe.
Portugal é agora dominado
por uma junta militar, que derrubou o regime democrático presidido por Aurélio
Cunha. Milhares de mercenários, contratados pelos militares no norte de África,
ocuparam hoje as agências de todos os bancos, pondo em causa a segurança dos fundos que investiram no país.
Não aguentou mais,
desligando o aparelho e acordando Francisco.
Esquece tudo. Imagina que
estamos sós numa ilha do Pacífico. Ou nas Berlengas, se achares melhor. Vamos
tomar um banho juntos, que não é seguro que amanhã haja gás.
Estremunhado, Francisco
Beirão deixou-se arrastar, enquanto ela o ia despindo para o empurrar para
debaixo do chuveiro.
Não me perguntes nada
antes; conto-te tudo depois. Deixa-me fruir-te.
Beijou-o sofregamente
enquanto a água quente caia sobre ambos e arrastou-o para a cama como se
precisasse daquele exercício para refrescar os pensamentos e repor as funções
que a revolução tinha suspenso havia 15 dias, como se isso fosse uma coisa
normal ou aceitável.
Depois adormeceu e sonhou
durante duas horas com o pior de Milton Friedmann, como se o fantasma lhe
tivesse entrado pela janela.
Era ele ao lado do
Pinochet, ao lado da Thatcher, do Rumsfeld e do Bush, era ele a considerar
positivo o Katrina, porque matou as crianças todas, dando oportunidade à
administração para reformar o sistema de ensino. Era ele, agora, a dizer que o
exército o que deveria fazer era disparar sobre essa gente que vagueia nas
ruas, encobrindo-se com balandraus pretos, que ocupa as agências dos bancos,
que não trabalha.
Se o exército matasse
metade dessa gente improdutiva, melhoraria substancialmente o índice de
desemprego, Portugal poderia aproximar-se rapidamente do pleno emprego e,
sobretudo, obtinha-se um assinalável movimento para o equilíbrio da balança de
pagamentos, pois que o país importa 80 por cento dos alimentos de que carece e
passaria a importar apenas 40 por cento, talvez mesmo muito menos, porque a
matança serviria de exemplo e o povo deixaria de estragar o que estraga.
Pois, mas se não
estragasse como haveriam de viver os caçadores dos caixotes do lixo?
Um horror – pensava
Angelina, meio acordada do pesadelo, enquanto ele dormia como um anjo. Sim,
como um anjo. Se o anjo não tivesse adormecido e Adão não estivesse lá, Abraão
teria assassinado o filho Isaac, em sacrifício a deus, a fazer fé no Saramago, que,
para além de comunista, portanto com todas as manhas, era um homem sábio e bem
informado, de tanto ler antes de aprender a escrever e de ganhar o Nobel.
O despertador tocou às 7
da manhã e Angelina levantou-se, tomou um banho rápido e saiu, mal amada, para
não dizer mal fodida, sub-repticiamente,
com um beijo no Francisco novamente adormecido. Esperava-a, na entrada do
prédio, um jipe do exército que a conduziu para o palácio de Belém, onde se
exigia a sua presença às 8 da manhã.
O que vamos dizer aos banqueiros?
– perguntou-lhe, ainda antes de entrar na sala do Conselho de Estado, o general
Francisco Sanches.
Vamos dizer-lhes o que os
senhores entenderem dizer. Mas o que me parece é que, mais do que dizer, devem
perguntar.
Mas, então, perguntamos o
quê?
Eu começaria por
perguntar-lhes qual a opinião que têm sobre a revolução e em que é que as
forças armadas os podem ajudar a encontrar uma solução para o país.
Você pode fazer-me uma
lista de perguntas, cinco ou seis, talvez uma dúzia, no máximo, que sintetizem
o que, para nós é importante saber?
Claro que sim, senhor
general. Vou prepará-las enquanto os senhores tratam de outras questões, das
questões da segurança e da paz; junto-me
quando me chamarem ou quando eu tiver esse trabalho concluído.
Chegou duas horas depois
com uma listagem de perguntas, que o general leu de revés e guardou no bolso.
Há um empréstimo negociado,
embora não aprovado pelo parlamento. Mas o parlamento está suspenso, como é
natural. Aliás está suspenso há muito tempo…
Não compreendemos como o
vamos pagar, tanto mais que boa parte dos recursos é dos bancos e para os
bancos… Os senhores têm alguma solução para este problema?
Não temos dinheiro para
pagar aos funcionários. Como podemos arranjar esses meios, de forma a evitar que
o país entre em rotura?
Porque razão é que os
senhores, que são, no fim de contas quem gere todo o capital, não adotam uma
posição de defesa dos direitos e interesses dos cidadãos, substituindo de vez
os partidos, em vez de pagarem aos membros dos partidos para que defendam os
vossos interesses?
O coronel Leonel da Silva
Lopes acabara de dar o mote. Em termos
de estratégia militar a questão começava a ser demasiado clara: se o país está
falido, ao ponto de não ter dinheiro para comprar munições a quem lhe fia,
porque não comprá-las diretamente da
fábrica?
Lembrou-se
do modelo a propósito da história do avô. O senhor Lopes, que por acaso era
filho de um padre e de um beata, donde houve uma pureza de costumes e uma
elevadíssima consciência ético social, própria, aliás, de quem tem progenitores
com qualidades genéticas de topos, capazes de transmitir não só a arquitetura
do hardware – talvez arduaére, em conformidade com o novo acordo – e a
subtileza do software – que também substituímos, pelas mesma razões
substituímos por softuére – tinha um sentido notável do pragmatismo.
Foi o pragmatismo que fez
de Portugal um grande país, mesmo antes de o pragmatismo existir. - comentou o
coronel. Uma ideia, qualquer ideia, só
tem sentido se corresponder em concreto ao conjunto dos seus desdobramentos práticos.
Se são os senhores quem
na realidade manda, quem pode e quem paga, porque não hão de fazê-lo
diretamente, poupando-se os milhões que se gastam com quem não manda, porque é
mandado? Porque não dignificamos a democracia, votando-a todos os dias, na
medida dos nossos próprios recursos?
Fez-se um silêncio na
sala, com o dr. Alcides Salgado a levantar o dedo, uns 5 segundos depois, para
tomar a palavra.
Senhores, a Pátria não
aguenta. Aquela jovem com se assumiu como o retrato da República não tinha
propriamente a cintura dos nossos tempos. Mas tinha uns seios que já não
existem e estava coroada com ramos de oliveira que se podiam encontrar de lés a
lés.
A oliveira sempre foi o
símbolo do trabalho, do azeite, da untura, do melhor e do mais prático que há
no sul da Europa.
Há milhares de anos que
usamos o azeite para tudo, deixe desenferrujar um parafuso até curar uma dor de
estômago, passando por milhares de mezinhas que aqui se construíram durante
milénios.
Hoje, o problema não é da
inexistência da glória mas da impossibilidade de a comemorar porque as
oliveiras desapareceram e a República
está gorda, velha e com as mamas descaídas.
Precisamos de uma nova
República, meus senhores. De uma República renovada, de peito feito, como era a
outra quando nasceu, cheia de vida, cheia de esperança.
Mas onde podemos nós
encontrar a esperança? – perguntou o general Francisco Sanches. O problema do
país não está na esperança nem na falta dela; está na falta de dinheiro. E foi
por isso que vos chamamos para ouvir a vossa opinião, cientes de que são os
senhores, os banqueiros, quem tem as chaves do cofre dos segredos.
Rodolfo Maldonado, vogal
da administração da Caixa Central, colocado na mesma pelo governo do primeiro
ministro Gustavo Lopes, porque namorava uma sobrinha do ministro das finanças,
arriscou-se no diálogo, como se ele fosse premonitório e salvador.
Tem razão o senhor
general. O problema é de dinheiro. Se nós pouparmos, se nós não gastarmos mais
do que o necessário, se nós produzirmos e vendermos, se voltarmos a restaurar
as feiras e mercados, voltaremos a ter uma idade de ouro, num país velho de séculos
cumulados de glória.
Mas o que sugerem os
senhores? – perguntou o general.
Fez-se um prolongado
silêncio, interrompido por Angelina, que, com uma voz trémula e emocionada, de
carótidas dilatadas, se dirigiu a todos os presentes, com um discurso direto e
incisivo.
Senhores,
O problema é de dinheiro;
os grandes problemas são sempre de dinheiro. Temos de um lado o exército, que é
a garantia da salvação da pátria, mas que vive de soldados. Sem soldo não há
soldados. Nem solda, para manter o país unido. Os soldados devem servir, antes
de tudo, para garantir a unidade da Pátria. Eles são a solda da Pátria. Os
senhores, os banqueiros são a reserva do soldo; sem dinheiro não há unidade,
nem há democracia. A Pátria precisa que os banqueiros multipliquem os recursos
e os coloquem ao serviço da economia. Só os banqueiros o sabem fazer; e só eles
têm o dom de o fazer.
Talvez os senhores
generais que nos ouvem ainda não tenham compreendido até onde os banqueiros são
essenciais à democracia.
Dito isto, pegou no
comando, acionou a descida do écran instalado na parece e ligou o projetor
lançando a todos este quadro:
Depósito
|
Reserva
|
Sobra
|
1.000.000,00
|
100.000,00
|
900.000,00
|
900.000,00
|
90.000,00
|
810.000,00
|
810.000,00
|
81.000,00
|
729.000,00
|
729.000,00
|
72.900,00
|
656.100,00
|
656.100,00
|
65.610,00
|
590.490,00
|
590.490,00
|
59.049,00
|
531.441,00
|
531.441,00
|
53.144,10
|
478.296,90
|
478.296,90
|
47.829,69
|
430.467,21
|
430.467,21
|
43.046,72
|
387.420,49
|
387.420,49
|
38.742,05
|
348.678,44
|
348.678,44
|
34.867,84
|
313.810,60
|
313.810,60
|
31.381,06
|
282.429,54
|
282.429,54
|
28.242,95
|
254.186,58
|
254.186,58
|
25.418,66
|
228.767,92
|
228.767,92
|
22.876,79
|
205.891,13
|
205.891,13
|
20.589,11
|
185.302,02
|
185.302,02
|
18.530,20
|
166.771,82
|
166.771,82
|
16.677,18
|
150.094,64
|
150.094,64
|
15.009,46
|
135.085,17
|
135.085,17
|
13.508,52
|
121.576,65
|
121.576,65
|
12.157,67
|
109.418,99
|
109.418,99
|
10.941,90
|
98.477,09
|
98.477,09
|
9.847,71
|
88.629,38
|
88.629,38
|
8.862,94
|
79.766,44
|
79.766,44
|
7.976,64
|
71.789,80
|
71.789,80
|
7.178,98
|
64.610,82
|
64.610,82
|
6.461,08
|
58.149,74
|
58.149,74
|
5.814,97
|
52.334,76
|
52.334,76
|
5.233,48
|
47.101,29
|
47.101,29
|
4.710,13
|
42.391,16
|
42.391,16
|
4.239,12
|
38.152,04
|
38.152,04
|
3.815,20
|
34.336,84
|
34.336,84
|
3.433,68
|
30.903,15
|
30.903,15
|
3.090,32
|
27.812,84
|
27.812,84
|
2.781,28
|
25.031,56
|
25.031,56
|
2.503,16
|
22.528,40
|
22.528,40
|
2.252,84
|
20.275,56
|
20.275,56
|
2.027,56
|
18.248,00
|
18.248,00
|
1.824,80
|
16.423,20
|
16.423,20
|
1.642,32
|
14.780,88
|
14.780,88
|
1.478,09
|
13.302,79
|
13.302,79
|
1.330,28
|
11.972,52
|
11.972,52
|
1.197,25
|
10.775,26
|
10.775,26
|
1.077,53
|
9.697,74
|
9.697,74
|
969,77
|
8.727,96
|
8.727,96
|
872,80
|
7.855,17
|
7.855,17
|
785,52
|
7.069,65
|
7.069,65
|
706,97
|
6.362,69
|
6.362,69
|
636,27
|
5.726,42
|
5.726,42
|
572,64
|
5.153,78
|
5.153,78
|
515,38
|
4.638,40
|
4.638,40
|
463,84
|
4.174,56
|
4.174,56
|
417,46
|
3.757,10
|
3.757,10
|
375,71
|
3.381,39
|
3.381,39
|
338,14
|
3.043,25
|
3.043,25
|
304,33
|
2.738,93
|
2.738,93
|
273,89
|
2.465,03
|
2.465,03
|
246,50
|
2.218,53
|
2.218,53
|
221,85
|
1.996,68
|
1.996,68
|
199,67
|
1.797,01
|
1.797,01
|
179,70
|
1.617,31
|
1.617,31
|
161,73
|
1.455,58
|
1.455,58
|
145,56
|
1.310,02
|
1.310,02
|
131,00
|
1.179,02
|
1.179,02
|
117,90
|
1.061,12
|
1.061,12
|
106,11
|
955,00
|
955,00
|
95,50
|
859,50
|
859,50
|
85,95
|
773,55
|
773,55
|
77,36
|
696,20
|
696,20
|
69,62
|
626,58
|
626,58
|
62,66
|
563,92
|
563,92
|
56,39
|
507,53
|
507,53
|
50,75
|
456,78
|
456,78
|
45,68
|
411,10
|
411,10
|
41,11
|
369,99
|
369,99
|
37,00
|
332,99
|
332,99
|
33,30
|
299,69
|
299,69
|
29,97
|
269,72
|
269,72
|
26,97
|
242,75
|
242,75
|
24,27
|
218,47
|
218,47
|
21,85
|
196,63
|
196,63
|
19,66
|
176,96
|
176,96
|
17,70
|
159,27
|
159,27
|
15,93
|
143,34
|
143,34
|
14,33
|
129,01
|
129,01
|
12,90
|
116,11
|
116,11
|
11,61
|
104,50
|
104,50
|
10,45
|
94,05
|
94,05
|
9,40
|
84,64
|
84,64
|
8,46
|
76,18
|
76,18
|
7,62
|
68,56
|
68,56
|
6,86
|
61,70
|
61,70
|
6,17
|
55,53
|
55,53
|
5,55
|
49,98
|
49,98
|
5,00
|
44,98
|
44,98
|
4,50
|
40,48
|
40,48
|
4,05
|
36,44
|
36,44
|
3,64
|
32,79
|
32,79
|
3,28
|
29,51
|
29,51
|
2,95
|
26,56
|
26,56
|
2,66
|
23,91
|
23,91
|
2,39
|
21,51
|
21,51
|
2,15
|
19,36
|
19,36
|
1,94
|
17,43
|
17,43
|
1,74
|
15,68
|
15,68
|
1,57
|
14,12
|
14,12
|
1,41
|
12,70
|
12,70
|
1,27
|
11,43
|
11,43
|
1,14
|
10,29
|
10,29
|
1,03
|
9,26
|
9,26
|
0,93
|
8,34
|
8,34
|
0,83
|
7,50
|
7,50
|
0,75
|
6,75
|
6,75
|
0,68
|
6,08
|
6,08
|
0,61
|
5,47
|
5,47
|
0,55
|
4,92
|
4,92
|
0,49
|
4,43
|
4,43
|
0,44
|
3,99
|
3,99
|
0,40
|
3,59
|
3,59
|
0,36
|
3,23
|
3,23
|
0,32
|
2,91
|
2,91
|
0,29
|
2,62
|
2,62
|
0,26
|
2,35
|
2,35
|
0,24
|
2,12
|
2,12
|
0,21
|
1,91
|
1,91
|
0,19
|
1,72
|
1,72
|
0,17
|
1,54
|
1,54
|
0,15
|
1,39
|
1,39
|
0,14
|
1,25
|
1,25
|
0,13
|
1,13
|
1,13
|
0,11
|
1,01
|
1,01
|
0,10
|
0,91
|
9.999.990,88
|
999.999,09
|
8.999.991,79
|
Os únicos que perceberam
foram os banqueiros, uns com um sorriso amarelo e outros com uma medrosa
palidez, como se desconfiassem que estava ali, à sua frente, uma perigosa
comunista, sobrevivente de guerras de outros tempos.
Na primeira coluna,
explicou Angelina temos registados os depósitos. Na segunda os valores da
reserva. Na terceira, o que sobra.
Se imaginarmos o depósito
de um milhão, será contabilizado o valor de 10% para reserva, depositando-se o
que sobra. E só aí, em duas operação, se transforma o capital em 1,9 milhões,
sendo a reserva 190 mil.
Ao fim de 134 operações,
que podem fazer-se no mesmo dia,
transformou-se 1 milhão em quase 10 milhões. Só os senhores banqueiros
conseguem este milagre. Mas é bom que pensem que não o podem fazer sem que o
exército garanta a paz na República.
O que é importante saber
hoje é muito simples: o que é que os senhores quem fazer., Estão dispostos a
ajudar a salvar a Pátria, a construir uma nova República, uma nova Democracia
ou optaram já por a arrastar para a cratera que ajudaram a abrir, com uma
classe política corrupta que a vocês próprios alimentaram, ao longo de anos?
Foi o cúmulo da provocação.
Os banqueiros ficaram verdes, vermelhos e azuis, conforme as cores dos
respetivos clubes, como se estivessem a pensar neles, a fim de evitar uma
conclusão precipitada, como se faz quando se quer adiar um orgasmo e se pensa
em tudo menos em acabar a função.
O general Francisco
Sanches tomou a iniciativa de reduzir a tensão, sugerindo que se continuasse a
reunião 48 horas depois.
III.
Os dados que têm sido
apresentados aos portugueses, durante os últimos meses, indiciam, de forma
segura, que o país se encontra numa situação de insolvência.
Usando a definição contida
no Código da Insolvência e Recuperação de Empresas, «é considerado em
situação de insolvência o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as
suas obrigações vencidas.»
Parece
pacífico, fazendo fé nos jornais, que Portugal
está impossibilitado de cumprir as obrigações vencidas e que, por isso
mesmo, vai contrair um gigantesco empréstimo, sem o qual quebrará os pagamentos aos seus credores.
Só faz
sentido contrair um empréstimo desta natureza
se for viável proceder à sua amortização.
Não é sério –
e é especialmente gravoso para as gerações futuras – que o país se endivide
mais, com a consciência de que não vai pagar a dívida, porque tal pagamento é
impossível ou insustentável.
É muito
preferível encarar a realidade de frente e assumir a ruptura se não houver a
certeza absoluta de poder respeitar os novos compromissos assumidos pelos
credores.
As últimas
«experiências» do FMI como quase todas as experiências do FMI, têm sido
desastrosas.
Não se
conhece um único caso em que uma intervenção do FMI tenha conduzido à
recuperação da economia. Em Portugal não será diferente, segundo a previsão de
observadores experientes.
O Estado
gasta cinco vezes mais do que recebe de impostos, o que é absolutamente
insustentável.
Os custos da
saúde e da educação representam cerca de metade da receita fiscal.
Se os
governos administrassem melhor estas duas áreas, seguramente que conseguiriam
deixar livre, para o resto da despesa pública um pouco mais do que metade da
receita fiscal.
O que não é
viável é gastar quase cinco vezes mais do que o total da receita.
Perante o
gigantismo da dívida, tudo aquilo que pode ser privatizado são peanuts,
que não contam para nada.
Parece-me que
não vale a pena manter mais segredos, encobrir mais realidades, dar aos
dirigentes políticos a oportunidade de envelhecer e de serem absolvidos pela
velhice.
Mais do que
fazer crescer a dívida é importante que a estanquemos e que descubramos como
vamos pagar a que temos. Talvez não seja tão difícil, se adotarmos o princípio
de que não temos o direito de transmitir sacrifícios para as gerações futuras.
Se não temos
dinheiro para pagar temos que dizer isso aos credores. Estamos insolventes, mas
somos pessoas sérias e queremos pagar o que podemos pagar.
Perante o
impasse da reunião dos militares com os banqueiros, os jornais viveram de
generalidades como esta, no primeiro dia posterior ao violento discurso de
Angelina.
No segundo
dia aconteceram duas coisas importantes. Alguém lançou nas redações dos jornais
uma lista de mais de 400 antigos políticos, com subvenções mensais vitalícias e
logo às primeiras horas da manhã a TSF anunciava que já tinha sido mortos 38,
quase 10%.
É mais barato
incendiar os Mercedes do que pagar-lhes a gasolina. A conclusão foi adotada, há
mais de 6 meses por militantes do movimento
Nova República, que incendiaram 10 Mercedes do ministério da Economia no
passado mês de Abril. A máxima foi hoje substituída por outra: é mais barato
matar os políticos que vivem à custa do orçamento do que sustentá-los. Menos de
24 horas depois de o Correio da Manhã ter anunciado que há 430 antigos
dirigentes políticos a receber subvenções milionárias, apareceram mortos 38 e
espera-se que os próximos dias esse número aumente de forma substancial.
As subvenções
mensais vitalícias custam mais de 50 milhões de euros por ano. Os antigos
políticos, assassinados nas últimas 24 horas, dividem-se de forma proporcional
por todos os partidos do arco parlamentar, sem qualquer discriminação, o que
demonstra um rigoroso planeamento da operações.
O Estado
ficou a ganhar cerca de 5 milhões de euros com estes homicídios, podendo ganhar
até 50 milhões se o desenvolvimento do plano prosseguir nos próximos dias.