quinta-feira, 11 de novembro de 2010

As profecias da D. Rosa

Tudo isto e o mais foi esquecido por momentos durante os 3 dias da visita do presidente Hu a Portugal. Todos os jornais, mais as televisões, anunciaram ruidosamente que o pais tinha conquistado a confiança do mais importante líder do mundo.
Hu é um comunista convicto, um homem que ofereceu a sua vida ao ideal comunista. Os capitalistas, os representantes da burguesia, os social fascistas e toda a demais escumalha que ele aprendeu a odiar rastejava-lhe agora aos pés, como se se assistisse em Lisboa a uma revolta da própria história.
Um deputado do PS que já foi do MRPP desabafava no Snob para um camarada de partido:
Estás a ver como poderíamos estar se não tivéssemos parado no maoismo? Esta é a China que todos os partidos burgueses combateram e que deu certo..
Mas o teu Mao matou 200 milhões de pessoas, dez vezes mais que o Estaline e 20 vezes mais do que o Hitler…
E quantos vamos nós matar à fome?
A conversa acabou ali, com o outro a dizer-lhe que ele dizia aquilo porque já sabia que não iria entrar nas próximas listas.
Esta conversa deprimente chocava brutalmente com as notícias do dia. Era como se Hu fosse uma aparição, daquelas que surgem sempre em tempos de crise profunda, como aconteceu em Fátima, cuja senhora é uma das responsáveis pelo facto de não termos um desenvolvimento semelhante ao dos chineses. Ou não foi ela que lançou a mensagem de que era preciso combater o comunismo até que os russo se convertessem.
A aparição de Hu touxe outras imagens ao horizonte: mais investimento, aumento de exportações e o reforço da aliança como parceiro estratégico, apagando-se da história o anticomunismo primário que conduziu o país à miséria.
Um articulista conservador escreveu que governo de Gustavo Lopes fez bem em apostar na carta chinesa.
Pequim é o novo farol do Mundo, a grande potência que desafia a hegemonia ocidental através do soft power. E tem dinheiro para comprar dívida pública portuguesa a preços de mercado.
Explicava o articulista que a  China beneficiou da crise de 2008 que virou o tabuleiro geoestratégico de pernas para o ar e pode hoje influenciar a falência ou a salvação de estados, moedas e pessoas.
Estamos dispostos a tomar medidas concretas para ajudar Portugal a ultrapassar a crise financeira global. -  disse Hu na despedida, como se estivesse disposto a assumir-se como pai da nossa pátria. E o articulista comentava: a afirmação é reconfortante quando a colocação de dívida nos mercados internacionais começa a ser difícil. O governo precisa de mais  750 milhões a seis anos e de 1,2 mil milhões a dez anos e ninguém lhes pega.
Tal como previra Angelina, encontrar quem empreste dinheiro a um país que está teso haveria de ser cada vez mais difícil, mesmo que os países tenham alguma similitude com as pessoas. A D. Ana nunca disse que ia ao prego empenhar as joias, quando os anéis eram a única coisa que tinha com algum valor, para além dos dedos. Justificava-se dizendo que ai ao banco e toda a gente julgava, porque se julga pelas aparências, como na justiça, que o que ela andava a fazer eram grandes negócios, talvez de importação e exportação, ou coisa assim.
Portugal também não diz que está falido e que precisa de dinheiro para o dia a dia, para pagar aos ministros e aos funcionários, para tudo o que é instituto ou associação pendurado no orçamento. Os jornais falam diariamente de vender a dívida, como se a dívida fosse alguma coisa que,  paradoxalmente, tivesse valor.
Claro que tem. – comenta Angelina. A dívida ocupa o primeiro lugar da produção portuguesa. Antes produzíamos, vinho, enchidos, azeite, carruagens de caminho de ferro, limas do Feteira, vidros da Marinha Grande. Hoje produzimos dívidas, em valor que é bem mais elevado do que o desses tempos em que Portugal era um país pobre.
Se Portugal não produzisse dívida, para além de ser um país pobre, miserável, não teria a notoriedade que tem; não apareceria todos os dias nos jornais e nas televisões do mundo, como um dos países a quem os grandes operadores financeiros dão a maior atenção.
O problema é que a dívida é tanta e tão grande que já é difícil encontrar quem a compre. Assistimos a um fenómeno semelhante ao que vemos nos anos de excedentes agrícolas. A fartura é tanta que os produtos apodrecem por falta de mercado, acabando por se cumprir o ditado de que não há excesso de fartura que não dê em fome.
A única grande diferença que há entre a fartura de dívida e a fartura de produtos agrícolas reside no facto de a primeira provocar a baixa dos preços e da a segunda, à margem de todas as regras do mercado, provocar o aumento.
Quando tínhamos pouca dívida para vender ela era baratíssima. Agora que temos dívida a dar com um pau, os preços subiram vertiginosamente quando o que era natural é que estivessem pela hora da morte como acontece sempre que há fartura.
O país tem cumprido a sua missão de produzir dívidas, como se essa fosse a principal função dos governos. Por isso, todos os portugueses deveriam dar-se por satisfeitos, em vez de, como fazem alguns, talvez até já sejam a maioria, desejarem a queda do governo do dr. Gustavo Lopes, aquele que há oito anos usou o slogan gostavas de viver num país próspero, então vota Gustavo.
O problema – dizia Angelina – é que num dia destes ninguém vai querer comprar. E aí, quando a dívida já for tão farta que não seja viável produzir mais dívida, o país precisa de pensar em produzir outras coisas. Do drama está em que talvez já não tenha quem saiba.
O tal cronista, como se fosse uma pitonisa, diz que é preciso tornar o país mais competitivo e produtivo e, sobretudo, encontrar uma estratégia de saída para a crise em dois ou três anos, coisa pouca na vida de uma nação.
Mas o FMI estima que 15,5% da riqueza dos portugueses seja devorada no pagamento da dívida em 2011. Ou seja, nós vendemos a dívida, até foi bem vendida, com juros altos, mas ainda temos que pagar o preço, como se em vez de sermos os vendedores fôssemos os compradores.
Há aqui outro paradoxo. Então a gente vende e ainda tem que pagar? Isso é gestão que se compreenda? Imaginem que o pais é uma puta: então ela ainda paga aos clientes? E a imprensa, as rádios, a televisão embarcam nisto, não denunciam isto?
 É a parte da fatura de anos de acesso fácil ao crédito que fizeram subir os salários e os preços mais depressa em Portugal, ou em Espanha, do que no Norte da Europa. – diz o cronista. Hoje temos filas de pessoas às portas dos centros de emprego. E escolas a abrir ao fim de semana para alimentar os alunos. Mas  no próximo ano será pior.
.Segundo a vidente Rosa, uma das mais prestigiadas de Lisboa, ao ponto de os Mercedes pretos fazerem fila à sua porta, como se ali fosse uma praça de táxis, Portugal está condenado a dez pragas, na virada da primeira década do século XXI.
Como os seus clientes são políticos, D. Rosa fundamenta as suas visões nos livros, porque se assim não fosse não teria credibilidade e, por isso mesmo, não podia ser contratada por ajuste direto.
As águas do Tejo serão vermelhas, como o foram às águas do Nilo, durante sete dias e sete noites, como foi escrito no Exodus 7.14.
Depois disso, o rio será invadido por uma praga de rãs, que só desaparecerão por mão divina, como escreveram os profetas no Exodus 8.1.
A seguir virão os piolhos, o que obrigará toda a gente a rapar o cabelo, de três em três dias, como está escrito no ponto 8.19 do mesmo livro e atingirá os próprios magos, entre os quais se situa a própria D. Rosa.
Uma praga de moscas cumprirá o destino marcado nos livros sagrados, como está determinado em 8.20-23, tudo pela ordem indicada e antes que o gado seja atingido por uma peste que o vitimará e causará grande mortandade nos que ousarem comer a sua carne, tudo em conformidade como o mesmo Exodus 9.1.
Úlceras e tumores atingirão os políticos com corações pérfidos, especialmente o que não pagarem a quem lhes indicar o destino. – sentencia D. Rosa. Está destinado no Exodus 9.8 e esta praga já começou. Foi por ela vitimado o deputado Valter da Costa, três meses depois de ter saído essa porta, sem pagar a conta, uns miseráveis cinco mil euros que lhe pedi
Trovões como nunca se ouviram e saraiva destruirão todas as culturas quando os alentejanos forem buscar gado a Espanha, como o fizeram os egípcios nas terras de Gósen (Ex.9.22). Porque eles querem contrariar a vontade de deus, deus terá que concluir o seu trabalho enviando-nos uma praga de gafanhotos, que deixará o país sem pasto, tudo como está destinado em Ex. 10.7 e Ex. 10.7-11, que deus voltou a reler agora, milhares de anos depois das pragas do Egito.
Haverá ainda não três dias de escuridão mas muitos dias de escuridão, porque faltará o dinheiro para as câmaras pagarem a luz à EDP. Será o poder de deus a proteger os mais pobres e a facilitar os assaltos que precisarão de fazer para matar a fome aos filhos.
Rosa tinha preparado longamente a ladainha, que repetia a cada um dos políticos e a cada um dos gestores que engrossavam dia a dia a sua refinada clientela. Ao sexagésimo dia do transe em que entrou, depois de ter decidido alimentar-se apenas com algas marinhas, aproveitando a campanha aberta pelo presidente da república para o regresso às coisas do mar, D. Rosa anunciou a morte dos primogénitos, o que levou as principais figuras do país a mandar os filhos para o estrangeiro, como forma de os defender da praga.
Deus – dizia ela – está muito triste com Portugal e com aqueles que o governam. Todo o mal está nas famílias, na reprodução dos vícios, na imitação dos pais. Os vossos filhos primogénitos serão mortos, porque deus se determinou a acabar com a vossa raça.